
O silêncio, inclusive aquele cultuado nas entrelinhas de um diálogo barulhento, é perverso. Perverso porque omite exatamente o que se gostaria de falar e calou. Oculta o que se queria saber e não se perguntou.
Nessa lacuna, nesse inconveniente hiato verbal, resta intacta a inquietante ignorância dos pensamentos alheios, responsável por tantos mal-entendidos, por tantos rompimentos de amores e amizades, por tantos julgamentos errôneos e precipitados.
O ápice da intercomunicação acontece quando conseguimos entender o outro, não por aquilo que ele disse, que ressaltou com tanta veemência, que bradou em voz estridente socando a mesa, mas reside naquilo que se deixou de explicitar, que entre constrangido e hesitante, se furtou falar, naquilo que restou velado, ainda que implicitamente denunciado, em pequenos gestos, em trocas de olhares profundos, em atos à primeira-vista insignificantes para com o outro.
Nessa lacuna, nesse inconveniente hiato verbal, resta intacta a inquietante ignorância dos pensamentos alheios, responsável por tantos mal-entendidos, por tantos rompimentos de amores e amizades, por tantos julgamentos errôneos e precipitados.
O ápice da intercomunicação acontece quando conseguimos entender o outro, não por aquilo que ele disse, que ressaltou com tanta veemência, que bradou em voz estridente socando a mesa, mas reside naquilo que se deixou de explicitar, que entre constrangido e hesitante, se furtou falar, naquilo que restou velado, ainda que implicitamente denunciado, em pequenos gestos, em trocas de olhares profundos, em atos à primeira-vista insignificantes para com o outro.
E não seriam as reticências também o silêncio daquilo que mais queríamos dizer, revelar, e por motivos mil omitimos? Por outro lado, o silêncio que reside na omissão, também representado nas reticências, nos abre espaços para múltiplas interpretações. E leitura - aqui entendida como compreensão, não como técnica de decodificação- não é ato isolado, lógico e exato. Ler o outro, as suas palavras, ainda mais, ler os seus silêncios , infelizmente, é assimilação de caráter relativo. Totalmente atado à experiência pessoal, ao contexto de vida de cada um de nós, preso naquilo que cada um de nós acredita ser o certo ou errado.
Além disso, quando lemos o outro, quando buscamos decifrar um ser diferente de nós, existe uma tendência quase automática de, paralelamente, iniciarmos um julgamento de valor daquele ser, que na maioria das vezes nada mais é do que um ilustre desconhecido. Mas nós, seres humanos falhos e limitados, acreditamos que nossa janela para o mundo é a mesma de todos os demais. Que enxergamos tudo da mesma maneira que o outro enxerga. E se o outro se nega a ver o nosso ‘certo’ é porque o outro é que está faticamente errado.
Impossível interpretar o outro, as suas atitudes ímpares, suas gritantes omissões, sem que se utilize dos próprios contextos falhos. Falhos porque individuais, da minha realidade, do meu cotidiano, da minha bagagem cultural. Totalmente desvinculado do contexto de vida alheio, desse outro ser incógnito, que muitas vezes se exibe aos meus olhos enquanto uma imensa ilha, misteriosa e inabitável.
Impossível interpretar o outro, as suas atitudes ímpares, suas gritantes omissões, sem que se utilize dos próprios contextos falhos. Falhos porque individuais, da minha realidade, do meu cotidiano, da minha bagagem cultural. Totalmente desvinculado do contexto de vida alheio, desse outro ser incógnito, que muitas vezes se exibe aos meus olhos enquanto uma imensa ilha, misteriosa e inabitável.