sexta-feira, 19 de junho de 2009


Paco sentiu-se mal, a discrimação doeu na alma. Mal...
Meu marido viu, ouviu e sentiu, constrangido também passou mal. Luther king sentiu-se mal, reagiu e foi assassinado. Zumbi fugiu para não mais sentir-se mal. E eu? O que faço com esse nó na garganta, com esse sentimento de impotência e desassossego que me faz ter vergonha de pertencer à raça humana?

sábado, 16 de maio de 2009


Carta ao Passado


Quando a vida terminar, e de meu corpo nada mais restar além de um espectro de alma, eu juro que vou te buscar. Porque ao menos no fim de minha vida, nossa história há de fincar teima em se manter.

Quando eu morrer, e que seja de morte rápida, minha alma há de te procurar em todos os recantos desse mundão. Nesse dia não poderás mais alegar questões de ordens morais, impossibilidades sociais, problemas familiares, porque tais questões não ultrapassam a fronteira da vida. Nada mais poderás fazer a não ser me seguir.

E talvez até venhas feliz porque em tua vida, agora percebes, sempre restou um tantinho de vácuo, algo a ser contado que emudeceu. E se foi um espaço diminuto, quase impercebível, uma mínima lacuna na tua história, a importância desse espaço aberto talvez justifique toda a tua vida. O que foi e o que deixou de ser...

Quando eu morrer- começo até gostar dessa possibilidade-, hei de te ver mais uma vez. E agora já nem quero mais te levar comigo, porque esse teu riso franco, essa tua alegria entre amigos que ora presencio me fez ver que o que quero, o que sempre quis, era apenas te ver assim, assim dessa forma nada meu e tão feliz. E minha errante alma espectadora agora deseja apenas poder cuidar, velar por ti, pelos teus, por toda a tua história que nada tem a ver com a minha e, apesar disso, me é tão cara.

Quando eu morrer, e o peso de minha existência fluir em cenas desordenadas que agora aprecio em flash back e em nada me perturbam, até entenderei o rumo que tudo tomou. Perceberei que nem poderia ter sido diferente. Assumirei afinal que, se a minha foi uma vida de espera sem promessas, tive o privilégio de conhecer o amor, esse ser que visita a poucas paragens e quase nunca finca residência.

Agora que morta estou começo até gostar da nossa história inacabada. Entendo afinal que a renuncia, se inquietou meu espírito, alívio trouxe a alguns tantos outros, inocentes de nossos erros. E vejo altruísmo no que antes identifiquei unicamente descaso, negligência, aspereza de caráter.

Então creio firmemente no que antes ouvi e escolhi ignorar: “Fomos o pouco que tinha de ser e que passou”. Um pouco intenso, tão intenso que sequer chegamos a perceber o diminuto que realmente foi. Fecho os olhos serena e leve, como deveria ter sido a própria vida se o entendimento tivesse assaltado a alma ainda nos primeiros reclames. E vejo teu rosto, teu riso, ouço tua voz pela última vez. E arrancando tua pele que por tantos anos trago grudada a mim, morro! Para renascer, teimosa Fênix, na clemência da amnésia com a qual hoje me presenteio. Abro os olhos para o futuro que me aguarda. Estou feliz.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Inacabadas

Houve tempo em que eu tinha centenas de cartas. Eu sempre adorei escrevê-las.Brigava com minha mãe, escrevia uma carta longuíssima para ela sobre minha insatisfação e tudo mais. Ficava decepcionada com uma amiga, novamente a caneta e o papel tornavam-se meus confidentes.

Escrevi muitas cartas. Mais do que posso lembrar. A maioria para uma única pessoa. Todas escritas sem a mínima intenção de enviá-las. Era um tipo de catarse. Algumas vezes comprava presentes também. Coisas como um livro, um cd, um bonequinho com a carinha do Chico Buarque. Presentes para alguém que morava distante. E também nunca os enviei.

Todavia as cartas eram o problema. Isso porque eu sempre voltava a relê-las. E quando isto acontecia eu sentia todas as decepções, todas as tristezas, todos os sonhos interrompidos assaltarem-me com uma força grotesca e lacerante. Tudo novamente ali, naquelas palavras. Havia mais dor nisso do que se possa pensar.

Como se eu guardasse todos os sentimentos em papel e tinta. Os sentimentos, que ali grudavam, hibernavam por um tempo a espera de sua dona. E ela sempre voltava para ressenti-los. Tantas vezes quantas possíveis...

Um dia percebi que essa catarse que inventei, não era catarse, era memória perene. Pura, bruta e imutável, porque gravada, selada e jamais enviada. Nesse dia queimei todas as cartas. Abri todos os presentes e os roubei para mim. Mas ainda hoje a memória, essa amiga da lucidez,, ainda me prega peças; tantas vezes faz-me reler todas aquelas idiotas cartas que não mais existem, como um scanner infalível que não se pode destruir, que não se pode queimar, porque não físico.

Em minhas lembranças, leio letra por letra, ponto por ponto tudo aquilo que escrevi no passado - e que as chamas deveriam ter extinguido para sempre. Revivo, relembro, re-sinto lágrima por lágrima tudo aquilo que há tanto ocorreu, do que deveria ter passado, e também daquilo que jamais ocorreu. Do que ficou impresso unicamente em um desejo insatisfeito e nas palavras.

Se a finalidade de uma carta é chegar a seu destino, a seu destinatário, as minhas, estas piégas, cafonas e sentimentalóides cartas, todas ficaram inacabadas. Como inacabada hoje eu me sinto - e sou.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Post-it



(Recado deixado por mim no blog do meu amigo Denuxo e que eu percebi gritar verdades minhas que por muito tempo mal pude ouvir).

Eu que 'grito' diuturnamente, aqui dentro tô mais para 'A Solitária', que afinal, se não catártica, ao menos poética. Pesquei em teu texto algumas mensagens criptografadas (espero decodificá-las -se não em seu todo, ao menos em parte)e em ocasião futura 'regurgitar' sobre elas. Contudo não me furto a dizer que, se somos apenas mais um coadjuvante na imensa multidão que compõe nossa própria história, que ao menos possamos (descumprindo às ordens do diretor desse filme trash) olhar para a câmera e dar um risinho de soslaio quando esta, incidentalmente, nos focar.

A vida é um drama shakespeareano inacabado. Perdemos tempo tentando dar o melhor de nós, o mais ético, o mais moralmente aceitável, a fim de criar um enredo que sirva de molde às próximas gerações, enquanto a platéia se dispersa, boceja e urge pelo fim do espetáculo. Não há fórmulas, esquemas, macetes. Nem há 'o melhor'. Há diferentes cenários, atores distintos, mas o enredo, com raras exceções, quase sempre se repete. Queremos crer que construímos nossa história, Contudo, tantas vezes somos desconstruídos por ela, senão tragados.

Se nossa história de vida se assemelha a mais uma refilmagem barata de um clássico 'Cukorniano', que ao menos sejamos maximamente intensos, inclusive nas dores. Farte-mo-nos de vida. Afinal, nada mais sub-humano que a superficialidade...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Eu tenho um sonho...


Tempos surpreendentes estes que vivemos. Tempos de esperanças e de sonhos.
Xenofóbica, eu sempre fiz questão de manter certo distanciamento da cultura yankee.
É bem verdade que nem por isso deixei de consumir a viciante coca-cola. Muito menos consegui ignorar Pink Floyd. Tudo o mais daquele povo me foi indiferente.
Influenciada por pessoas queridas, deixei por muito tempo a indiferença privar-me das coisas boas que as infinitas possibilidades da multiculturalidade pode nos trazer (e traz!).
Estava ali pelos 28, 29 anos quando resolvi que me permitira descobrir aquilo que meu coração, naturalmente, já haviam optado por seguir...
E foi assim que me deixei guiar pelo Jazz, pelo Blues, pelo Soul, pelas películas hollywoodianas(até então só conseguia assistir os medíocres filmes nacionais, o cinema francês e algumas películas latinas, como os filmes de Almodóvar)).
Foi o começo da degradação cultural dessa blogueira que vos escreve – como se o brega paraense, por si só, já não fizesse esse trabalho com honorável louvor...
Devo confessar que, estupefacta, hoje flagro-me torcendo pela vitória de um candidato a presidente dos EUA com fervor só comparável a minha antiga e caótica militância Lulista(sim, porque minha militância sempre foi mais pelo metalúrgico que pelo partido em si).
Barack Hussein Obama, filho de uma professora americana do Kansas, de classe média alta, e de um Africano do Quênia, fumou maconha e usou cocaína na juventude enquanto estudava direito em Havard, detalhes contados em sua biografia. Desde ontem, 05 de novembro de 2008, entra para história como o primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América.
Contudo, Obama nega esse rótulo. E seu eleitorado, a maioria jovens ansiosos por mudanças drásticas nos arcaicos paradigmas americanos, também.
Obama quer ser lembrado como o político que conseguiu transcender a questão racial na América do Norte, essa potência capitalista que, antagonicamente, por anos a fio conjugou de maneira inversa desenvolvimento econômico versus vanguarda cultural. Senão, como explicar que o racismo ainda seja algo tão comum entre pessoas que dispõem de um aparato tecnológico, informacional e intelectual tão abastado e intenso?.
E assim, entre lágrimas de emoção de um povo que vive o pior momento econômico dos últimos noventa anos, e a decepção daqueles que acreditavam que o partido Republicanos poderia manter-se ad eternum no poder, mesmo com todo caos em que se encontram, produto de uma famigerada especulação econômica no setor imobiliário. O governo Bush, além de entrar para a história como o Presidente norte-americano mais non sense de toda a clã dos ex-residentes da Casa Branca, também pode se orgulhar de mais esse feito: Contribuiu incontestavelemnte para a derrota do seu candidato de partido. Bush foi um dos, senão o maior cabo eleitoral de Barack
Ok, é verdade. Não estou entre os otimistas que acreditam que Obama fará jus à raça, às injustiças sociais e afins.
Não vejo em Obama um justiceiro à altura dos sonhos e das lutas de Luther King. Ao Contrário: Barack não sentiu na pele as agruras de ser um negro morador de guetos discriminado pelo cor e pela classe social. Barack não sabe o que é ser um imigrante ilegal em um dos países que mais rejeita as diferenças.
Talvez por isso, para mim, seja difícil imaginá-lo curando feridas das dores que não sente, que jamais sentiu...
Mas Barack, se não é o sonho ideológico de uma raça subjugada, ao menos representa a mudança possível. O sopro de novos tempos. Tempos em que a todos é permitido sonhar, independente de raça, etnia ou religião.
Impossível negar: a vitória de Obama emocionou-me ao ponto de fazer-me chorar. E(pasmem, caros amiguinhos!) pela primeira vez peguei-me desejando estar equivocada.
Seria Barack Hussein Obama o super-homem que mudará, "como um Deus, o curso da história"?
Quem viver verá!

sábado, 23 de agosto de 2008


Existe um momento em que todos te vêem como alguém que não pode mais fazer bobagens, dizer besteiras, cometer atos fora dos padrões.

É aquele momento em que você já não pode mais ser uma menina inconseqüente e "chutar o pau da barraca".

A maioria de nós sequer percebe quando esse momento chega. A gente fica ali, vendo o tempo passar, tudo se modificando ao nosso redor: casas, ruas, pessoas, situações...

Tudo em constante mutação, mas a gente, obtusamente, não consegue ver a própria mudança no espelho.

Na verdade, ironicamente, continuamos contemplando em nosso reflexo, a mesma menina crédula e romântica que um dia foi.

Mas as pessoas não mais te enxergam assim... As pessoas não mais toleram de você atitudes distintas dos atos frios e práticos, comuns para as decisões do dia-a-dia, Ninguém tolera mais "sentimentalismo barato" vindo de você.

Todos exigem, unicamente, que vocâ seja uma mulher que pensa sempre muito mais que sente.
E você, por não corresponder às expectativas alheias, sente-se uma alienígena que não se encaixar no protótipo que condiz com a sua idade e condição social.

Deveria existir um ritual de passagem para tal situação. Talvez assim tudo ficasse mais fácil...

Há alguns dias fiz 37 anos (caraca, nunca pensei que escreveria minha idade de forma tão descolada assim). 37 com cara de 27, diga-se de passagem(hahahaha).
Há muito não sou mais uma garotinha. Não posso mais recorrer ao colo da mamãe quando qualquer "coisinha" dá errado.
Com 37 anos, eu deveria ser uma mulher forte, decidida, que não hesitase em correr atrás dos próprios desejos, ou mudá-los quando a vida dissesse "não" para os sonhos antigos.

A maioria de nós crê que uma mulher balzaquiana nunca deveria ter medo do escuro quando, no meio da noite, falta energia. Mas quando isso acontece, tantas vezes, me pego gritando no breu da noite.

Eu, mulher de trinta, deveria saber sempre que rumo escolher, que caminho tomar, que porto atracar.

Mas a verdade é que aqui dentro, no mais recôndido âmago do meu ser, ainda sou uma garotinha confusa e amedrontada. Uma mulher que ainda não aprendeu como lidar com o complexo e dúbio mundo adulto.

Mulher que, tal qual uma menina, se deixa escolher pelo "Porto', porque aquele outro, o porto que ela realmente queria, aquele em que ela por anos a fio desejou atracar, fincar suas âncoras, negou-lhe seu mar.

Essa balzaca-menina tem muito medo, e tantas dúvidas, e chora sozinha tantas vezes sem nem mesmo saber o porquê.

E além de toda essa piégas demonstração de fraqueza, essa mulher-menina, ainda sonha muito com as mesmas coisas que sonhava quando menina.

E ainda almeja os mesmos desejos, ainda que agora sem tanta esperança, mas com a mesma inocente fé da menina crédula que um dia foi, embalada pelas mesmas músicas que um dia fizeram-lhe crer que tudo daria certo.

Talvez tudo já tenha dado certo mesmo, ainda que por uma via diferente. E só eu, mulher-menina boba, com constante vendas nos olhos, não tenha percebido.

É! Pode ser...

terça-feira, 1 de julho de 2008