quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Eu tenho um sonho...


Tempos surpreendentes estes que vivemos. Tempos de esperanças e de sonhos.
Xenofóbica, eu sempre fiz questão de manter certo distanciamento da cultura yankee.
É bem verdade que nem por isso deixei de consumir a viciante coca-cola. Muito menos consegui ignorar Pink Floyd. Tudo o mais daquele povo me foi indiferente.
Influenciada por pessoas queridas, deixei por muito tempo a indiferença privar-me das coisas boas que as infinitas possibilidades da multiculturalidade pode nos trazer (e traz!).
Estava ali pelos 28, 29 anos quando resolvi que me permitira descobrir aquilo que meu coração, naturalmente, já haviam optado por seguir...
E foi assim que me deixei guiar pelo Jazz, pelo Blues, pelo Soul, pelas películas hollywoodianas(até então só conseguia assistir os medíocres filmes nacionais, o cinema francês e algumas películas latinas, como os filmes de Almodóvar)).
Foi o começo da degradação cultural dessa blogueira que vos escreve – como se o brega paraense, por si só, já não fizesse esse trabalho com honorável louvor...
Devo confessar que, estupefacta, hoje flagro-me torcendo pela vitória de um candidato a presidente dos EUA com fervor só comparável a minha antiga e caótica militância Lulista(sim, porque minha militância sempre foi mais pelo metalúrgico que pelo partido em si).
Barack Hussein Obama, filho de uma professora americana do Kansas, de classe média alta, e de um Africano do Quênia, fumou maconha e usou cocaína na juventude enquanto estudava direito em Havard, detalhes contados em sua biografia. Desde ontem, 05 de novembro de 2008, entra para história como o primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América.
Contudo, Obama nega esse rótulo. E seu eleitorado, a maioria jovens ansiosos por mudanças drásticas nos arcaicos paradigmas americanos, também.
Obama quer ser lembrado como o político que conseguiu transcender a questão racial na América do Norte, essa potência capitalista que, antagonicamente, por anos a fio conjugou de maneira inversa desenvolvimento econômico versus vanguarda cultural. Senão, como explicar que o racismo ainda seja algo tão comum entre pessoas que dispõem de um aparato tecnológico, informacional e intelectual tão abastado e intenso?.
E assim, entre lágrimas de emoção de um povo que vive o pior momento econômico dos últimos noventa anos, e a decepção daqueles que acreditavam que o partido Republicanos poderia manter-se ad eternum no poder, mesmo com todo caos em que se encontram, produto de uma famigerada especulação econômica no setor imobiliário. O governo Bush, além de entrar para a história como o Presidente norte-americano mais non sense de toda a clã dos ex-residentes da Casa Branca, também pode se orgulhar de mais esse feito: Contribuiu incontestavelemnte para a derrota do seu candidato de partido. Bush foi um dos, senão o maior cabo eleitoral de Barack
Ok, é verdade. Não estou entre os otimistas que acreditam que Obama fará jus à raça, às injustiças sociais e afins.
Não vejo em Obama um justiceiro à altura dos sonhos e das lutas de Luther King. Ao Contrário: Barack não sentiu na pele as agruras de ser um negro morador de guetos discriminado pelo cor e pela classe social. Barack não sabe o que é ser um imigrante ilegal em um dos países que mais rejeita as diferenças.
Talvez por isso, para mim, seja difícil imaginá-lo curando feridas das dores que não sente, que jamais sentiu...
Mas Barack, se não é o sonho ideológico de uma raça subjugada, ao menos representa a mudança possível. O sopro de novos tempos. Tempos em que a todos é permitido sonhar, independente de raça, etnia ou religião.
Impossível negar: a vitória de Obama emocionou-me ao ponto de fazer-me chorar. E(pasmem, caros amiguinhos!) pela primeira vez peguei-me desejando estar equivocada.
Seria Barack Hussein Obama o super-homem que mudará, "como um Deus, o curso da história"?
Quem viver verá!